Um dos eixos centrais da política cultural da Prado é a sua relação de proximidade com a formação profissional em diversas áreas de especialização artísticas. Em 2022, Patrícia Portela aceita de novo coordenar o exercício final da ESTC e repete a residência artística em Viseu, no Teatro Viriato, agora com um protocolo assinado entre as duas entidades para apresentação do exercício final de interpretação da Escola Superior de Teatro e Cinema todos os anos. Para o ano de 2022, e a pedido do director da ESTC Lucas Aprea, Patrícia Portela alia-se à professora e música Maria Repas e em conjunto propõem fazer um musical a partir do Roman de Fauvel do século XIV.

O Roman de Fauvel é um poema satírico e alegórico de 1310 atribuído a Gervais de Bus, musicado parcialmente por Philippe Vitry e acompanhado de belíssimas iluminuras. Este poema conta a história de um burro de seu nome Fauvel que um dia, insatisfeito com o seu estábulo, decide mudar-se para o quarto do seu dono, escorraçando-o para fora dos seus aposentos. Torna-se assim na figura mais ilustre dos arredores. Venerado pelo clero e pela nobreza, casado com Vanglória e tendo como convidados habituais à sua mesa a Inveja, a Luxúria ou o Adultério, Fauvel chama a si a missão de procriar e multiplicar-se o mais possível para que a insensatez, a corrupção e a imoralidade possam, finalmente, e de forma inequívoca, levar o mundo até ao seu fim. Vivendo nós hoje temos tão calmos e sanos, cheios de solidariedade, fraternidade e bons costumes, sem intriga ou traição, poderá parecer-vos estranho escolher este tema como exercício final do 3o ano de actores da Escola Superior de Teatro e Cinema. No entanto, o interesse dos alunos em trabalhar um musical aliado à sabedoria popular que nos informa que os ciclos se repetem, levou-nos a suspeitar que quando menos se espera lá se prefere outra vez um “burro de duas patas” a um de quatro a quem entregar o poder. Roman de Fauvel, 700 anos após a sua escrita anónima e a muitas mãos, continua actual.

Convocando Dario Fo, B Fachada, José Mário Branco ou Camões a juntarem-se a este poema satírico, este espectáculo co-criado por 13 intérpretes da ESTC estreou a 13 de julho no Teatro Municipal São Luiz, apresentando 5 récitas, seguindo depois para Viseu para o Teatro Viriato. Em Lisboa teve sempre Casa cheia e em Viseu a plateia, comovendo e encantando um público diversificado e curioso, era na sua maioria de estreantes no teatro.

Com este projecto a Prado cumpriu mais uma vez a sua missão de formar, transmitir conhecimento, pesquisar, experimentar mas também diversificar públicos e convidá-los a apreciar obras clássicas da História ocidental enquanto lhes oferece um novo rosto e as faz dialogar com a actualidade.

Ficha Técnica
Orientação: Patrícia Portela e Maria Repas
Intérpretes Ana Calvete, Camila Gonçalves, Carolina Trindade, Débora Aguiar, Diana Linguiça, Francisca Fernandes, Magda Braia, Maria Inês Antunes, Maria Miguel Oliveira, Matilde Romão, Rui Flora, Sophia Fonseca
Produção Diogo Zózimo, Marta Semião
Professores responsáveis / ramo Produção Carolina Marques e Miguel Cruz.